"Sonho meu, vai buscar quem mora longe". Foste embora do meu presente saudoso de ti como tu eras em menino, Chão. Passo as mãos já esguias de te procurar e não vislumbro com clareza a tua pessoa. Ah, como eras tu em pequeno, quando estavas bem! Não te encontro. Ou porque foges de mim ou porque sou eu que, sem talento, não me chego até ti.
As saudades do teu luminoso sorriso, a tua inspiração irónica, a tua fina inteligência atormentam-me pela ausência. Tu és um sonho meu e irei buscar-te onde moras longe. Nenhum de nós vai perder a força de agigantar o sonho de nos voltarmos a encontrar. Como e quando eras em menino. Conta comigo, Chão.
Ah, sei-o, não perdeste a tua alma! Vem, e trá-la contigo. Estou pronto para te abraçar, de te querer perto, desperto, ávido de viver. Viver a tua liberdade, afirmar o teu querer, sublimar a saudade.
Abre a flor que há em ti, deixa que o sol a aqueça e confia: vais ficar bem, um dia perto. Em breve se adivinha progresso. O regresso vai começar.
Todas as noites me convidas a dar um passeio feito de conversa e silêncios cúmplices. Estarei sempre lá onde precisares de mim. Vamos dar um passeio? Aonde queres ir? Olha que é longe. Não faz mal.
Esta é uma homenagem à minha filha. Apesar de velho, e de ser um entusiasta das músicas dos anos sessenta, setenta e oitenta do século passado. Apesar de ter crescido com a música popular portuguesa de antes e depois do 25 de Abril (José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, etc.) gosto de acompanhar as preferências da generosa juventude do meu país. Quando vi, hoje, uma notícia sobre um episódio maravilhoso que se passou com estudantes portugueses em visita a uma zona Leste de Espanha em que centenas de jovens portugueses cantaram esta música em coro a partir dos quartos em que estavam hospedados. Quando soube que esta maravilhosa cena já recebeu a visita nas redes sociais de milhares de pessoas, não pude deixar de ter orgulho em ser português e de termos cá uma juventude que talvez ainda nos possa dar uma alegria, desembaraçar-se do oportunismo e carreirismo que atinge as nossas instituições e honrar a memória e o sacrifício dos que resistiram à ditadura e nos legaram um bem precioso: a Liberdade.
O Chega meteu-se numa alhada. Convocou uma manif junto à Assembleia da República contra a presença de um grande lutador pela Liberdade e pelo bem estar dos brasileiros. Lula não é um arrivista como o presidente do Chega. Ventura é amigo da família do fascizante Bolsonaro! O chega só existe porque fazia parte da estratégia do PS deixar crescer um partidozeco que fragmentasse a direita. O Chega é um artefacto. Não vale nada! Nunca chegará ao poder. O líder da oposição, Montenegro, pense-se dele o que se quiser, dá mostras de ser um homem honesto. Creio que não é troca tintas.Disse e redisse que nunca irá buscar o Chega pela mão para fazer coligações com Ventura. Nem aceita, sequer, um putativo apoio parlamentar para viabilizar um provável governo PSD. Toda a gente começa a perceber quem é Ventura: oportunista, carreirista, populista, xenófobo, racista. O 25 de Abril abriu portas a tudo o que não interessa. Esta gente cresce depressa mas morre cedo. Não têm futuro. Por isso não lhes devemos dar muita importância porque eles o que querem é ser atacados, são masoquistas, para poderem dar nas vistas. A melhor maneira de lidar com eles é ignorá-los, mesmo que às vezes o Ventura, que até é esperto e astuto, tenha uma certa graça. Temos que dar um desconto, ele ainda é muito jovem e imaturo. E é betinho. Coitado! Parece um menino de coro. Eu lutei pela Liberdade. Mas cada vez tenho mais dúvidas sobre o conceito. Talvez esteja agora mais perto de um mártir da Revolução Francesa que dizia: " Nenhuma liberdade para os inimigos da Liberdade". (Marat). A manif junto da Assembleia não é só contra Lula, um homem superior, é sobretudo contra o 25 de Abril. Mas, " há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não.".
Adriano Correia de Oliveira, "Trova do Vento que Passa". Letra de Manuel Alegre, música de António Portugal.
Princípios e convicções não são exactamente a mesma coisa. Primeiro, para contextualizar, façamos um breve reencontro com a História.
Quem fez ou contribuíu para o 25 de Abril e interveio no movimento revolucionário que lhe sucedeu? Capitães progressistas, PCP, movimentos dissidentes de inspiração Marxista-Leninista que deram origem à UDP, PCP(R), FEC-ML e outros menos visíveis mas com intervenção notável como o MES, o PRP e PSR. O PS não tem direito a grande destaque para a História real do nascimento da Revolução e os apoiantes e dirigentes não se deviam orgulhar do seu passado recente e da sua intervenção de direita no período pós 25 de Abril. a não ser pela mão de Soares, um populista social democrata exilado em França durante o fascismo. Foi, é certo, um estadista lúcido e influente mas o seu contributo para o 25 de Abril foi diminuto. É um mito, nada mais. Se o PS actual diz, pela voz de Costa, que está lá o ADN do PS, não admira. Devia ter explicado melhor qual é esse ADN pois os portugueses são fracotes em Biologia e no geral são falhos de memória. Outros partidos muito agressivos constituídos por militantes muito jovens como o MRPP, também tiveram o seu papel. Seja como for, apesar de uma descolonização imperfeita (em que os dirigentes do PS da altura participaram), de uma Reforma Agrária bloqueada em 25 de Novembro de 1975 por um golpe de Estado levado a cabo dos sectores mais moderados e conservadores de então, o sonho de Abril começou a morrer. Aquilo a que os revolucionários chamavam burguesia estava de novo pronta a tomar conta do país mas, agora, em democracia. Pelo menos, tinha-se acabado com a ditadura. A UDP tinha eleito, já para a Assembleia Costituinte, um deputado. Operário, como convinha, deixou-nos uma frase memorável. Uma vez dirigiu-se à Assembleia nos seguintes termos: "Isto aqui é um ninho de lacraus". Faleceu há pouco. Não sei se alguém se lembrou dele; Acácio Barreiros, foi eleito para a Assembleia da República e, independentemente do seu percurso ulterior (viria a acabar no PS), fica na história como sendo um dos deputados mais brilhantes e combativos na defesa do ideal que a UDP propunha: o povo ao poder!
O movimento PREC (processo revolucionário em curso) tinha acabado. As decisões políticas passaram a ser tomadas por representantes do povo em Palácios, nos gabinetes. A intervenção popular tão espontânea no PREC resumir-se-ia, doravante, a um boletim de voto colocado, de tempos a tempos. Chamaram a isso democracia representativa. A outra democracia que os de esquerda esquerda reivindicavam era a democracia popular. Este conceito foi importado. Por exemplo, há países como a China cujo nome completo é República Popular da China. É certo que tinha acabado o partido único do regime derrubado, qualquer grupo com um determinado número de assinaturas podia fundar um partido. Havia, e ainda há apesar das dissimulações, liberdade de expressão e de imprensa. E felizmente deixou de haver, tanto quanto se sabe, polícia política. Mas nunca fiar! A democracia não é nenhuma santa!
Hoje, ainda é o PCP, quer se goste ou não, o herdeiro número um da luta pela defesa das conquistas de Abril. Havendo,porém, uma conquista, pelo menos, que vai direita a um antigo e notável membro do PS, António Arnaut: o Serviço Nacional de Saúde. Isso deve ser património a preservar, a defender e a melhorar. Uma vez gostei muito de ouvir da boca de uma médica do Hospital Público de Faro, ao qual recorro com frequência, : "Nós somos militantes do SNS!". É muito reconfortante ouvir isto de uma médica.
Voltando às convicções e aos princípios.Eu gosto de separar uma coisa da outra. Uma tem a a ver com ideologias, situação económica e política, situação geopolítica, história do indivíduo, classe social a que pertence, interesses relacionados, etc. As conviccções alteram-se com facilidade ao longo da vida e até se podem justificar. Acompanham as opções que se vão fazendo, com eventuais alterações do modo de vida, de situação familiar e até do gosto de cada um no momento em que vota. Os partidos são fazedores de opinião e a imprensa também, p.ex. Assim se explica porque a mesma pessoa nem sempre é fiel ao 1ºpartido em que votou. Muda de opinião com alguma facilidade. Ou seja, ou os eleitores não têm convicções ou mudam conforme a situação politica ou são muito influenciáveis. Os eleitores , verdade seja dita, ligam mais áquilo que os partidos fazem do que áquilo que eles dizem. Não estou de acordo com aqueles que dizem que os partidos têm um eleitorado próprio. Os eleitores não só mudam frequentemente de partido como de convicções. A lógica é: qual é, neste momento, o partido melhor para mim. Para os meus interesses?
Agora vamos aos princípios, aos valores. Os que lerem isto sabem a que é que eu me refiro. Não falo propriamente de ideais, já não tenho! Falo da vida como ela deve ser vivida. Com serenidade, com emoção, com amor, com respeito, com solidariedade, com amizade , com fairplay. Respeito pela natureza e pelos animais (não sou do PAN), respeito pela diferença, pela diversidade, etc. Sou partidário da máxima que indica - aprender até morrer: É um dos principais princípios que nunca abandonei. Princípios humanos fortes requer paciência e tempo. É por isso que hoje me delicio com a sabedoria da velhice e tenho uma paixão pelos antigos filósofos gregos e romanos. Gosto tanto de reler Epicuro, Heraclito, Platão, Aristóteles, Séneca o estóico, entre outros notáveis sábios que há mais de 2500 anos nos ensinaram como devemos viver: É que "Ter uma causa, ter uma paixão, isso leva tempo, é uma filosofia de vida.." (José Mujica, ex-fundador e guerrilheiro dos Tupamaros, eleito depois da ditadura Presidende do Urugai. Está vivo ( 83 anos).
Muitos daqueles que abraçaram impetuosamente, por vezes ainda muito jovens, os ideais que vingaram após Abril 74 , abandonaram a militância por cansaço e desilusão no início dos anos 80 do século passado. Outros, uma grande parte, ao que sei, deram uma monumental cambalhota nas suas convicções. Não vou, por delicadeza, mencionar alguns exemplos de altas figuras do Estado e dos governos que começaram a sua carreira política na UDP ou no MRPP e acabaram no PS ou no PSD. Muitos! Foram na verdade pessoas dos extremos! Todos têm o direito de errar desde que os seus históricos erros não deixem mazelas em inocentes. Não deixo de salientar que hoje consigo ser amigo de uma ou outra dessas pessoas. Porque separo convicções de princípios. E não é por cambalhotas espectaculares que me deixo de relacionar com essas pessoas quando nos identificamos a nível dos princípios. Não pergunto a ninguém qual é o seu partido antes de lhe dar os bons dias. Quanto ao ex-camaradas que eventualmente leiam esta prosa, um voto de bom progresso vivencial. Os princípios, os valores adquirem-se e melhoram ao longo da nossa vida, da nossa história. Faço um apelo: homens e mulheres que abraçaram Abril, por favor não reneguem os princípios! Pelo menos, respeitem a generosa e inegualável contribuição de figuras de referência que há muito nos deixaram! Eles fazem parte do património da mais saudável esquerda que já existiu em Portugal: José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Mário Branco, José Alcobia. Entre muitos. Foi deles um grande contributo para que vós, os vossos filhos e netos tivessem acesso a coisas pelas quais se lutou: Paz, Pão, Liberdade, Independência Nacional. Mas atenção, as conquistas não são irreversíveis. Como se pode comprovar pelo estado a que chegámos. Não consigo perceber qual é o actual programa da esquerda real e, para dizer a verdade, não consigo passar do sentimento de nostalgia e de descrença. Como cantava o Zé Mário: "para esse peditório já dei". Tenham um bom dia, pelo menos no 25 de Abril que se aproxima e façam o favor de arranjar aquele cravo simbólico!
José Mário Branco no Coliseu de Lisboa, 2008. "Eu vim de Longe".
A guerra na Ucrânia (país e gentes que aprendi a respeitar e admirar) trouxe à tona uma realidade existente desde há muito mas que agora se agravou nas suas origens e consequências.
O mundo está dividido: de um lado estão os países industrializados, poderosos e bem armados como os EUA, a Russia, a China, o Japão, a Alemanha, a Inglaterra, a França, etc. . Alguns deles estão nuclearizados como os EUA que chefia a NATO, a Russia e a China. A União Europeia tem muitos países com boas forças armadas e de segurança e caminha para uma política de união de defesa conjunta dos seus membros. No meio, estão os países em vias de desenvolvimento, embora ricos em recursos têm grandes assimetrias e graves problemas de distribuição da riqueza. Ex. Brasil, Índia e alguns países do Médio Oriente e até a África do Sul. Finalmente temos os países pobres onde escasseiam recursos, escolaridade, saúde, etc. Estão, nesse conjunto, quase todos os países africanos, muitos da América do Sul e da Ásia.
Mercê das transformações ocorridas após a II guerra mundial e também após a derrocada da ex-URSS emergiu como potência um terceiro país: a China. Assim do ponto de vista geopolítico os maiores atores passaram a ser o EUA, a Russia, a China e a União Europeia.
A Russia atual tenta, hoje, recuperar o território que antes estava na posse da URSS. Há quem diga que os dirigentes atuais da Russia,com o seu dono à cabeça, sonham em recuperar, passo a passo, mais territórios e dizem que fazem parte da mãe Russia. Zelensky, que é secundado por muitos paises que se opuseram à invasão, vai mais longe e diz,creio com razão, que o sonho secreto da Russia é constituír um império à semelhança dos antigos regimes totalitários czaristas.
Os erros cometidos pelo kremelin não foram poucos: 1º - Os russos não contavam com a resistência dos ucranianos, pois acreditavam que uma coisa que já dura há mais de um ano era para ser resolvida em dias; 2: - Não contavam com a compreensão e apoio da comunidade internacional à Ucrânia, e 3º - Não contavam com o isolamento perante a esmagadora maioria dos países de todo o mundo. A Russia conta apenas com um pequeno punhado de apoiantes (em que se inclui a marioneta da Bielorussia); 4º- o dono da Russia contava com o apoio incondicional do seu povo, o que não é líquido que esteja a acontecer. A adesão consumada da adesão da Finlândia à NATO e da provável entrada da Suécia são um reforço importante para a defesa do ocidente. A Russia perdeu também aqui quando jogou no enfraquecimento e desunião no ocidente.
A guerra convocou uma mobilização de meios (homens,armamento,munições) extraordinários. Já foram gastos milhões e milhões em ajuda à resistência ucraniana. Do lado da Russia pouco se sabe sobre os gastos materiais, mas a destruição de equipamentos e instrumentos de guerra devem ser enormes. A perda de vidas humanas (militares, civis, crianças) pode ser contabilizada,tanto de um lado , como do outro, mas os números que já se conhecem são assustadores. A destruição de grande parte da Ucrânia vai que ter reparada. Vai ser um valor incalculável para a reconstrução. Os russos deviam ser obrigados a pagar. As sanções e contra sanções, sobretudo entre UE e Russia, as limitações às importações e exportações, a desvalorização das moedas e o clima de incerteza quanto ao desfecho da guerra, tudo isto afectou negativamente a economia à escala global e provocou uma crise financeira afetando os bancos americanos e suiços. Não é de espantar que os preços dos custos de produção de quase tudo provocaram um aumento quase repentino da inflação que se refletiram nos preços ao consumidor. Por ex., os preços dos alimentos em Portugal subiram, aliando o encarecimento normal provocado pela inflação de cerca de 8% aos aumentos das margens de lucro ganhas pelos vendedores situando-se, de facto, o preço actual 20% acima do preço de 2022. A isto chama-se especulação. Ou seja, em Portugal há gente a ganhar muito dinheiro com a crise, com a guerra.
Não sabemos qual será o desfecho da guerra. Não sabemos quem ganhará, lá longe, no terreno. Não saberemos sequer quem perderá. Provavelmente perderemos todos nós. E a Russia e a Ucrânia já perderam, seja quem quer que ganhe esta etapa. Arrisco vaticinar que os pobres de todo o mundo ficarão mais pobres e os ricos cada vez mais ricos. Se a Russia não ganhar ficaremos, pelo menos em paz e continuaremos a ser livres, independentes e soberanos. Deixem-nos continuar a viver em Democracia e em Liberdade. Mas tudo depende dos ucranianos e do apoio que o ocidente lhes presta na sua luta. Que é a nossa luta.
De tudo o que se pode ter ou mesmo tocar diz-se que é tangível. Daquilo que jamais, ou no instante, podemos ter ou aspirar a ter, por ser demasiado elevado para a humanidade, dizemos que é inalcançável.
Mas há objectos que sendo intocáveis se dão à nossa mente. São objectos compreensíveis, inteligíveis. Dão-se-nos sob a forma de objectos intelectuais. A maior parte destes objectos começou por ser de carácter "científico". Com o tempo, evoluiram e passaram a ser fonte de novos objetos intelectuais. Ou seja, passaram a ser objecto de novas descobertas e avanços, fazendo andar a roda das novas descobertas científicas. E assim sucessivamente.
Hoje, mau grado a teoria da relatividade e outras correntes novas a nível da Física, é tradicionalmente aceite que o tempo é eterno e o espaço infinito.
Para vos dar um pouco de sentimento e a "aplicação" do que tento passar-vos, arrisco a deixar aqui uma nota histórico-trágica; pois, não sendo eu propriamente um cientista, tem tido a história, ao longo da sua vida, protagonistas que não eram insensíveis aos dramas da humanidade.
Os mártires do amor, Romeu e Julieta, - que W. Shakespeare tão bem lavrou na sua magistral peça- enquanto apaixonados, prometeram-se um ao outro como inseparáveis. Uma vez forçadas as circunstâncias coercivas que se abateram sobre os seus desejos e o seu recíproco amor restou-lhes a aceitação da sua finitude, e deram-se à eternidade do maior sentimento que pode haver. A impossibilidade do amor cá na terra e a suprema decisão e vontade de se darem um ao outro mesmo na morte, justificam o título deste post: subiram ambos ao céu em sublime afirmação voluntária, pois o seu amor infinito só podia ter lugar na eternidade.
"Oh mar salgado, quanto do teu sal são lágimas de Portugal" (F. Pessoa).
Porque chorais lusas gentes? Porque derramais vossas lágrimas pelos entes queridos que não voltareis a ver?
O mar imenso e alteroso derrubou as naves conquistadoras e sepultou nele os corpos dos nossos ousados marinheiros.
No cais choram as viúvas e os filhos amados. Nas praias jazem despojos dos defuntos e a dor é maior do que nunca. Esperámos, muito, em vão pelo regresso ao largo de ilhas desertas. Não, não voltaremos a encontrar-nos e das arribas vislumbramos as tábuas soltas das caravelas boiando e batendo nos rochedos agrestes.
Oh mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal! Quanto do teu sangue derramado pintaram de vermelho as castanhas algas e os restos das tábuas ostentando os símbolos de Portugal.
Deu-me a sorte, um dia destes, um denorteado caminho que percorri ao sabor do norte. Fiquei preso desse norte ao sabor de uma morte anunciada. E sem o saber, percorri o caminho alagado de lágrimas e, portanto, me submeti a esse sabor sem norte na anunciada morte. Não, me disse, o sabor do triste norte, preso ao tal sabor da grande sorte. Pena foi a minha não ter ideia da morte que me era então anunciada. O destino, desatinado, me arrancou os cabelos quase todos num instante de cima a baixo. A cada pelo arrancado substituiu-se uma ideia. Como tivesse tido grande razia no couro cabeludo a minha sorte foi ter ficado carente de ideias. Assim me encontro agora: Vazio de ideias, desnorteado, sem sorte, que esta não me tem por feliz. Há tempos que sabia o que agora relevo: a minha escrita está em dificuldades. Como se se tratasse de uma morte anunciada.