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31
Jul18

Ética da responsabilidade

publicado por júlio farinha

   Tem-se escrito e falado muito acerca do que é que um político pode ou não fazer, a propósito do recente episódio que envolveu o ex-vereador do BE na Câmara Municipal de Lisboa.

   O político em causa tornou-se conhecido pela sua persistente e militante defesa do direito à habitação, bem como pela sua oposição à especulação imobiliária. Ora, o incidente em que se viu directamente envolvido configura, exactamente, um caso de grosseira especulação: procurar vender por 5,7 milhões aquilo que lhe havia custado menos de 1 milhão (valor de compra, mais valor de restauro) é prova disso mesmo.

   O caso não mereceria o aparato mediático que dele se fez, se o político da vereação fosse um cidadão comum, ou mesmo um militante ou dirigente do PS, do PSD ou do CDS. Estes últimos partidos não se notabilizaram, propriamente, pela sua oposição à tal especulação e a outras maleitas como a corrupção. Por isso, já não são notícia de primeira página.

   O problema que se levantou com a ocorrência é do domínio do relativo. Muitos politicos demonstram ter direitos consuetudinários para fazer o que querem e lhes apetece, servindo-se dos eleitores e não cuidando de os servir. No mundo dos negócios ou da actividade empresarial escasseiam as regras básicas que deviam nortear a organização social e económica, sem que o neoliberalismo dê conta de uma regulação que devia competir ao estado. Neste contexto, vale praticamente tudo. Não há referências, nem limites para o desmando.

   Os senhores desta deriva detém um poder incomensurável. Valores, não os têm para si. Arranjam-se uns quantos à medida da manietação da arraia miúda. De modo que podem fazer como bem lhes apetecer, que nada lhes fica mal.

   Apetece dizer que ter princípios, sendo próprio de gente honesta, é uma limitação na vida. Os de esquerda não podem fazer quase nada daquilo a que os de direita têm direito. Estão limitados por um imperativo que é a coerência.

   Não significa isto que se defenda que os de esquerda devem ter direito a fazer tudo a que se atiram os de direita. Os princípios que a esquerda tem para a vida pública deve tê-los em sua própria casa. Ora, não foi isto que se passou com o sr. Robles a quem se pode, muito justamente, aplicar-se o pensamento:  "Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz".

   O BE, ao substituir o seu vereador na Câmara de Lisboa, parece ter entendido depressa que a responsabilidade do exercício dos cargos políticos é inseparável de uma ética correlativa. Se esta for maltratada, o exercício do cargo que lhe está associado torna-se substancialmente irresponsável e a sua percepção pública completamente destituída de sentido.

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